quarta-feira, 3 de outubro de 2012

8. CIDADES (1)



(PUBLICADO NO JORNAL CIDADE DE GUARUJÁ Nº 46)


Do latim, civitas, cidade é o nome comum ao ajuntamento humano de maior importância e grandeza. Nos últimos 80 anos a população brasileira que era, em sua maioria, campesina, deslocou-se para as cidades à procura de trabalho na indústria e no comércio que prosperavam. Esse movimento migratório aconteceu principalmente na direção norte-sul quando populações do nordeste brasileiro, do campo e periferia das vilas e povoados, procuraram melhores condições de vida nos estados do sul brasileiro.
As cidades que receberam essa emigração não se prepararam para orientar o crescimento exacerbado de suas populações, especialmente de baixa renda, e como conseqüência houve a ocupação de áreas sem vigilância nas quais cresceram enormes favelas. Assim aconteceu no Guarujá.
Quando aqui cheguei, no final da década de sessenta, demorava-se, às vezes, três ou quatro horas para atravessar a balsa, afinal era um serviço público e como tal sempre ineficiente por motivos vários. Para chegar rápido às praias percorria-se, velozmente, a estradinha mal asfaltada, atual Av. Ademar de Barros, e logo antes de entrar na Av. Leomil avistava-se no morro em frente, onde hoje existe um viaduto, a favela chamada Morro da Glória. Por que Glória, não sei.
Pendurados no morro de barro vermelho estavam mais do que cem barracos, visão poética para alguns, completa falta de estética para outros. Mais de dez anos depois, durante uma forte chuva, as casas vieram abaixo. Na época eu trabalhava na SBS, estatal do serviço de água de Santos-Guarujá. Conversei com o Vitielo, então prefeito. Rafael, disse eu, aproveite para transferir toda essa gente para outro lugar. Vamos melhorar a entrada da cidade. Consigo um local perto do Morro dos Macacos.
              Eu havia trabalhado junto à Casa Civil do governador Laudo Natel, nos Campos Elíseos, após a defecção do Adhemar de Barros. Esbocei num papel um loteamento com um canal no meio para conduzir as águas provenientes da Nascente dos Macacos e também das águas das chuvas. A água daquela nascente já era utilizada como água potável e, portanto, ficava resolvido o problema de distribuição de água domiciliar. Entreguei o esboço para um arquiteto da Prefeitura que providenciou a planta. A esposa do Governador chamava-se Zilda Natel, por isso o local foi batizado como Vila Zilda.
               A solução foi adotada para resolver um problema urgente, entretanto e infelizmente a idéia vingou e o prefeito eleito em 1978 prosseguiu loteando as áreas anexas à Vila Zilda, assumindo a missão de prover a demanda por terrenos para a população de baixa renda, encargo que deveria pertencer à livre iniciativa. O poder público municipal, que mal consegue atender suas obrigações relativas à saúde,  educação e manutenção da infra-estrutura urbana, não deveria, jamais, assumir o papel de empresário que sempre desempenhou mal e parcamente. É lamentável.

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