(PUBLICADO NO JORNAL CIDADE DE GUARUJÁ Nº 54)
PONTE OU TUNEL
PONTE TUNEL |
Há
2000 anos na República Romana, em ocasiões de extremo perigo, o Senado elegia
um ditador com poderes absolutos para governar. No Brasil em 1964, ante o
perigo de uma revolução comunista, as Forças Armadas e o Povo transformaram a
democracia em uma ditadura. Para que um regime autoritário dessa ordem pudesse
funcionar, seria necessário que o ditador fosse um filósofo virtuoso, mas não
somente ele. Ninguém governa sozinho e junto ao poder estão os aproveitadores,
os subservientes, os vagabundos, os maus que não querem trabalhar e os parentes
e amigos nem sempre virtuosos.
Estamos
assistindo neste exato momento a queda de regimes de exceção do norte da África
e do Oriente Próximo onde movimentos populares acabam por chacinar o ditador e
sua corte. Não será necessário muito discernimento para concluir que regimes
ditatoriais não respondem às necessidades humanas e acabam, no mais das vezes,
em revoluções sangrentas.
A democracia,
onde o Poder Executivo e o Judiciário obedecem às leis exaradas do Legislativo,
tem sido a melhor maneira de exercer o governo, todavia ultimamente a corrupção
infiltrada em todos os Poderes da República transforma nossa democracia em uma
ditadura do Poder Executivo! Isso porque o Executivo compra com dinheiro do
“caixa dois”, ou com cargos públicos, os legisladores, anulando o poder de
fiscalização que eles poderiam exercer. Eleger para cargos legislativos gente
que se vende por meia dúzia de patacas é uma doença epidêmica que precisa ser
curada. Uma Câmara obediente transforma o detentor do cargo executivo em um
ditador, como vem acontecendo na esfera federal com o “Mensalão” e nas demais
esferas com os “mensalinhos”.
A
nossa democracia atual é, na realidade, uma ditadura do Poder Executivo.
Em
torno de 1973 morava no Guarujá o jornalista Alexandre Von Baumgarten que eu
havia conhecido no Palácio do Governo Campos Elíseos no início da década de
setenta. Tínhamos um amigo comum, o jornalista J. C. Bittencourt. Eu
freqüentava a casa do Alexandre às sextas feiras para o whisky de praxe e, às
vezes, ia também aos sábados para terminar a conversa. Ele pertencia ao denominado “Sistema” e era
amigo do irmão do presidente Ernesto Geisel, que também era Gal. do Exército.
Sua casa era freqüentada pelo pároco bolonhês muito conhecido na cidade e por
um sem número de pedintes de favores, alguns funcionários graduados inclusive
do Judiciário. Muitos pretendiam, simplesmente, transferência de cidade ou
queriam ir trabalhar em Brasília.
Naquela
época eu tinha uma pequena construtora e fazia casas para vender na Praia do
Pernambuco e construí, para o Alexandre, uma dependência no terreno ao lado de
sua casa. Freqüentemente as conversas versavam sobre o lerdo e péssimo serviço
de balsas que nos ligavam a Santos. Em uma dessas conversas recebi uma proposta
inusitada: - Você quer fazer a ponte
Santos-Guarujá, eu arrumo o dinheiro com o Geisel, disse o Baumgarten! Na
juventude somos todos um pouco destemidos e malucos, todavia meu bom senso
prevaleceu. Não aceitei. O fato
aconteceu em 1973 há quase 40 anos. Durante esse tempo muitos projetos foram
feitos, muito dinheiro gasto, mas a inércia do poder público, lendária, não conseguiu
ainda resolver a situação.
No
RGS acabou de ser construída uma nova ponte sobre o rio Guaíba. Cada quilômetro
demorou 500 dias para ser feito e custou quatrocentos milhões de reais. Na china ou EUA a mesma ponte teria custado
um oitavo do preço e demorado quinze vezes menos tempo! Por que tanta ineficiência neste nosso Brasil?
Seria
somente ineficiência?
Vamos
aguardar para ver quanto dinheiro vai entrar pela boca do túnel que, com a
graça de Deus, finalmente vai ser construído entre Santos e Guarujá.
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