sexta-feira, 26 de outubro de 2012

17. CIDADES (10)


 (PUBLICADO NO JORNAL CIDADE DE GUARUJÁ Nº 54)

PONTE OU TUNEL

     PONTE                                                                                                                                TUNEL

Há 2000 anos na República Romana, em ocasiões de extremo perigo, o Senado elegia um ditador com poderes absolutos para governar. No Brasil em 1964, ante o perigo de uma revolução comunista, as Forças Armadas e o Povo transformaram a democracia em uma ditadura. Para que um regime autoritário dessa ordem pudesse funcionar, seria necessário que o ditador fosse um filósofo virtuoso, mas não somente ele. Ninguém governa sozinho e junto ao poder estão os aproveitadores, os subservientes, os vagabundos, os maus que não querem trabalhar e os parentes e amigos nem sempre virtuosos.

Estamos assistindo neste exato momento a queda de regimes de exceção do norte da África e do Oriente Próximo onde movimentos populares acabam por chacinar o ditador e sua corte. Não será necessário muito discernimento para concluir que regimes ditatoriais não respondem às necessidades humanas e acabam, no mais das vezes, em revoluções sangrentas.

A democracia, onde o Poder Executivo e o Judiciário obedecem às leis exaradas do Legislativo, tem sido a melhor maneira de exercer o governo, todavia ultimamente a corrupção infiltrada em todos os Poderes da República transforma nossa democracia em uma ditadura do Poder Executivo! Isso porque o Executivo compra com dinheiro do “caixa dois”, ou com cargos públicos, os legisladores, anulando o poder de fiscalização que eles poderiam exercer. Eleger para cargos legislativos gente que se vende por meia dúzia de patacas é uma doença epidêmica que precisa ser curada. Uma Câmara obediente transforma o detentor do cargo executivo em um ditador, como vem acontecendo na esfera federal com o “Mensalão” e nas demais esferas com os “mensalinhos”.
A nossa democracia atual é, na realidade, uma ditadura do Poder Executivo.

Em torno de 1973 morava no Guarujá o jornalista Alexandre Von Baumgarten que eu havia conhecido no Palácio do Governo Campos Elíseos no início da década de setenta. Tínhamos um amigo comum, o jornalista J. C. Bittencourt. Eu freqüentava a casa do Alexandre às sextas feiras para o whisky de praxe e, às vezes, ia também aos sábados para terminar a conversa.  Ele pertencia ao denominado “Sistema” e era amigo do irmão do presidente Ernesto Geisel, que também era Gal. do Exército. Sua casa era freqüentada pelo pároco bolonhês muito conhecido na cidade e por um sem número de pedintes de favores, alguns funcionários graduados inclusive do Judiciário. Muitos pretendiam, simplesmente, transferência de cidade ou queriam ir trabalhar em Brasília.

Naquela época eu tinha uma pequena construtora e fazia casas para vender na Praia do Pernambuco e construí, para o Alexandre, uma dependência no terreno ao lado de sua casa. Freqüentemente as conversas versavam sobre o lerdo e péssimo serviço de balsas que nos ligavam a Santos. Em uma dessas conversas recebi uma proposta inusitada: - Você quer fazer a ponte Santos-Guarujá, eu arrumo o dinheiro com o Geisel, disse o Baumgarten! Na juventude somos todos um pouco destemidos e malucos, todavia meu bom senso prevaleceu. Não aceitei.  O fato aconteceu em 1973 há quase 40 anos. Durante esse tempo muitos projetos foram feitos, muito dinheiro gasto, mas a inércia do poder público, lendária, não conseguiu ainda resolver a situação.

No RGS acabou de ser construída uma nova ponte sobre o rio Guaíba. Cada quilômetro demorou 500 dias para ser feito e custou quatrocentos milhões de reais.  Na china ou EUA a mesma ponte teria custado um oitavo do preço e demorado quinze vezes menos tempo!  Por que tanta ineficiência neste nosso Brasil?
Seria somente ineficiência?
Vamos aguardar para ver quanto dinheiro vai entrar pela boca do túnel que, com a graça de Deus, finalmente vai ser construído entre Santos e Guarujá.

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