(PUBLICADO NO JORNAL CIDADE DE GUARUJÁ Nº 48)
Jânio da Silva Quadros, paulista
de Mato grosso, com caspa sobre o paletó surrado (diziam ser propositalmente
colocada), de vassoura na mão e rodeado de uma estranha “entourage”, discursava
na Freguesia do O, em São
Paulo , nos idos de 1957. Bradava, como um louco, que varreria
toda a corrupção existente na Prefeitura daquela cidade, indício forte e
convincente de que qualquer coisa de errado deveria haver naquele governo. O
povo também desconfiava da desonestidade administrativa, tanto assim que elegeu
o varredor.
Lecionava português no Dante
Alighieri, excelente colégio, mas não tinha título para tanto e segundo alguns,
nem competência, entretanto isso não vem ao caso.
Assumiu em 1958 quando eu morava
na Lapa. Ele havia prometido, entre outras tantas coisas, que asfaltaria
numerosas ruas e, de fato, iniciou logo ali na Rua Guaricanga, onde morava a
Dina Sfat, que depois se tornou conhecida artista de TV. Assessorado pelos
correligionários inventaram o “asfalto Jânio”. Jogavam alguma brita no leito da
rua e após uma ou duas passadas do rolo compressor aspergiam asfalto quente. Na
hora ficava uma beleza, mas depois de algumas semanas com chuvas, tudo voltava
ao que era antes. Não fiquei sabendo se o Erário Público pagava menos por aquele
arremedo de asfalto. Como é costumeiro dizer-se hoje nos programas policiais da
TV, ninguém foi preso...
Outra do impoluto advogado (et caterva) aconteceu quando pretendeu humanizar a cidade
de São Paulo. De repente foram plantadas
milhares de roseiras nas praças de SP e ao mesmo tempo construídos viveiros
onde aprisionaram toda a espécie de aves, a maioria da nossa fauna. A Praça da
República, a Marechal Deodoro e tantas outras foram premiadas com aquela
insanidade. Logo descobriram que era necessário um exercito para alimentar,
todos os dias, todos aqueles pássaros. E para cuidar das roseiras? Um dia
faltava alpiste e no outro o funcionário estava de licença. Os pássaros
morreram de fome e as roseiras de sede. E ninguém foi preso...
Desde aquela época a coisa tem
caminhado mais ou menos assim. Intensa e costumeira inabilidade em lidar com o
dinheiro dos impostos motivado por um fato simples. Falta absoluta de critérios
de prioridade para gastar o dinheiro público. Os eleitos, especialmente nos
dias que correm, não são e nunca foram empresários acostumados a lidar com
investimentos vultosos. Afeitos ao desregramento administrativo em suas vidas
privadas onde lidam, no mais das vezes, com meia dúzia de tostões, ao assumir o
elevado posto de alcaide, sem saber o que fazer de útil, mandam pintar os meios
fios (guias) das ruas centrais. Isso já acontecia há trinta anos, mas houve um
sensível progresso tecnológico. Naquela época pintavam todas as guias. Hoje
pintam intercaladas, sem dúvida por motivos estéticos.
A Vila Maia em Guarujá era, em
priscas eras, um bananal constituído de substrato de origem vegetal sobre uma
camada, às vezes profunda, de areia de origem marinha. Não era um local próprio
para edificação de residências e, por isso, a área teve que ser aterrada. A
terra veio do morro atrás da atual Delegacia e Correios. Pois bem, o morro
transformado em caixa de empréstimo ficou com uma enorme e antiestética
cicatriz. Lá pela década de 1970 eu propus que a PMG plantasse ali a Araucária
Heterophylla (excelsa) e também o Cymbopogon Citratus para segurar a terra e apagar
aquela chaga. A solução de reconstituição da flora poderia ser realizada a um
custo irrisório naquela época, mas os responsáveis pela cidade tinham assuntos
mais urgentes...
Após quase quarenta anos e muito
dinheiro gasto o problema foi resolvido, mas a cicatriz permanece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário