quarta-feira, 3 de outubro de 2012

10. CIDADES (3)



(PUBLICADO NO JORNAL CIDADE DE GUARUJÁ Nº 48)


Jânio da Silva Quadros, paulista de Mato grosso, com caspa sobre o paletó surrado (diziam ser propositalmente colocada), de vassoura na mão e rodeado de uma estranha “entourage”, discursava na Freguesia do O, em São Paulo, nos idos de 1957. Bradava, como um louco, que varreria toda a corrupção existente na Prefeitura daquela cidade, indício forte e convincente de que qualquer coisa de errado deveria haver naquele governo. O povo também desconfiava da desonestidade administrativa, tanto assim que elegeu o varredor.   
Lecionava português no Dante Alighieri, excelente colégio, mas não tinha título para tanto e segundo alguns, nem competência, entretanto isso não vem ao caso.
Assumiu em 1958 quando eu morava na Lapa. Ele havia prometido, entre outras tantas coisas, que asfaltaria numerosas ruas e, de fato, iniciou logo ali na Rua Guaricanga, onde morava a Dina Sfat, que depois se tornou conhecida artista de TV. Assessorado pelos correligionários inventaram o “asfalto Jânio”. Jogavam alguma brita no leito da rua e após uma ou duas passadas do rolo compressor aspergiam asfalto quente. Na hora ficava uma beleza, mas depois de algumas semanas com chuvas, tudo voltava ao que era antes. Não fiquei sabendo se o Erário Público pagava menos por aquele arremedo de asfalto. Como é costumeiro dizer-se hoje nos programas policiais da TV, ninguém foi preso...
Outra do impoluto advogado (et caterva)  aconteceu quando pretendeu humanizar a cidade de São Paulo.  De repente foram plantadas milhares de roseiras nas praças de SP e ao mesmo tempo construídos viveiros onde aprisionaram toda a espécie de aves, a maioria da nossa fauna. A Praça da República, a Marechal Deodoro e tantas outras foram premiadas com aquela insanidade. Logo descobriram que era necessário um exercito para alimentar, todos os dias, todos aqueles pássaros. E para cuidar das roseiras? Um dia faltava alpiste e no outro o funcionário estava de licença. Os pássaros morreram de fome e as roseiras de sede. E ninguém foi preso...
Desde aquela época a coisa tem caminhado mais ou menos assim. Intensa e costumeira inabilidade em lidar com o dinheiro dos impostos motivado por um fato simples. Falta absoluta de critérios de prioridade para gastar o dinheiro público. Os eleitos, especialmente nos dias que correm, não são e nunca foram empresários acostumados a lidar com investimentos vultosos. Afeitos ao desregramento administrativo em suas vidas privadas onde lidam, no mais das vezes, com meia dúzia de tostões, ao assumir o elevado posto de alcaide, sem saber o que fazer de útil, mandam pintar os meios fios (guias) das ruas centrais. Isso já acontecia há trinta anos, mas houve um sensível progresso tecnológico. Naquela época pintavam todas as guias. Hoje pintam intercaladas, sem dúvida por motivos estéticos.
A Vila Maia em Guarujá era, em priscas eras, um bananal constituído de substrato de origem vegetal sobre uma camada, às vezes profunda, de areia de origem marinha. Não era um local próprio para edificação de residências e, por isso, a área teve que ser aterrada. A terra veio do morro atrás da atual Delegacia e Correios. Pois bem, o morro transformado em caixa de empréstimo ficou com uma enorme e antiestética cicatriz. Lá pela década de 1970 eu propus que a PMG plantasse ali a Araucária Heterophylla (excelsa) e também o Cymbopogon Citratus para segurar a terra e apagar aquela chaga. A solução de reconstituição da flora poderia ser realizada a um custo irrisório naquela época, mas os responsáveis pela cidade tinham assuntos mais urgentes...
Após quase quarenta anos e muito dinheiro gasto o problema foi resolvido, mas a cicatriz permanece. 

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