(PUBLICADO NO JORNAL CIDADE DE GUARUJÁ Nº 50)
As
cidades representam o povo que as edifica. Sempre foi assim. Elas retratam a
criatividade, a lógica, a inteligência, o senso estético e econômico presentes
na mente da média da população. Povos mais civilizados, mais instruídos, mais racionais
produzem aglomerados humanos mais saudáveis, mais higiênicos e, por fim, mais
coerentes. Os Romanos, há 20 séculos, construíam cidades segundo um padrão
superior às metrópoles existentes hoje no terceiro mundo, guardados os avanços
tecnológicos atuais e, naquela época, levaram seus conhecimentos a todo o
Império conquistado.
Quem
teve a oportunidade de conhecer alguma cidade dos EUA ou do Canadá, vista do alto,
no sobrevôo de um avião quando aterrissa ou, modernamente, através do Google Earth, poderá
confrontar com o panorama aéreo que se vê nas cidades brasileiras e, então,
entender o que significa estar à margem da civilização. Os países emergentes,
com uma economia forte como a nossa, continuarão a
pertencer ao chamado terceiro mundo enquanto persistir a inoperância e a ineficiência dos Entes Públicos. Aliás,
poderíamos definir como pertencentes à terceira categoria aqueles países onde
não funcionam ou funcionam mal os Serviços Públicos, equivale dizer,
onde o Executivo o Legislativo e o Judiciário deixam a desejar.
Não é
fácil atinar o significado de síndrome do funcionalismo público, mas poderíamos
dar um exemplo significativo. Lembro-me de ter lido, em minha juventude, algum
livro, provavelmente da Vicki Baum, que relatava fatos da vida dos germano-judaicos
residentes na Alemanha antes da Grande Guerra. Contava que, entre os hebreus, quando os filhos não tinham
vocação para o comércio, finanças ou música, arranjavam logo um emprego
público para ele. Naturalmente, esse fato somente não poderia explicar o mau
funcionamento dos órgãos públicos, mas como preito à racionalidade, é preciso
concluir que se uma determinada máquina funciona mal deveremos procurar o
defeito entre seus constituintes.
Como
brasileiros não podemos negar que nosso país é belo e “em nele se plantando
tudo dá”, entretanto a maioria das cidades não tem coleta de esgoto sanitário
ou quando tem, todo material reunido e coletado é despejado no rio mais próximo
e ainda temos que conviver com estatísticas manipuladas. As cidades crescem sem
planejamento e as edificações são feitas completamente
ao arrepio dos códigos de posturas. A periferia de São Paulo, por exemplo, é
simplesmente um amontoado de casebres sem acabamento e os “puxadinhos” acabam
retirando toda a necessária insolação. A antiga história de que o sol deve
entrar até dois terços dos dormitórios, pela inobservância, faz moscas rirem.
O poder público nunca chega a tempo. Não prevê,
não programa, não administra as prioridades para que sejam realizadas, em
primeiro lugar, as obras mais necessárias. Isso ocorre em todos os níveis. É
inacreditável o tratamento que se dá aos presos por absoluta falta de previsão.
Escolas, hospitais seguem o mesmo caminho. Enquanto falta o essencial, o Brasil
investe bilhões em arenas para o importante evento mundial de futebol. O
futebol é nosso circo, portanto também importante, mas nesse andar da
carruagem, o Brasil continuará a ser conhecido neste nosso pequeno mundo
globalizado como país do futebol, do carnaval e das favelas.
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