(PUBLICACDO NO JORNAL CIDADE DE GUARUJÁ Nº 52)
CEMITÉRIO
Em
qualquer cidade de nosso interior é sempre fácil saber onde se localiza o
cemitério, é só procurar o lugar mais alto.
Ocorre que esses locais estão livres da umidade porque o lençol freático
é mais profundo não impedindo a decomposição dos corpos. No Guarujá, na década
de 70, tínhamos somente o cemitério da Vila Júlia junto ao morro dos macacos.
Local baixo cujas ruas de acesso ficam inundadas durante chuvas mais fortes.
Não é preciso dizer que se trata de local de subsolo úmido onde a putrefação
dos corpos pode demorar ou jamais ocorrer. Como a municipalidade não se
importou, tempestivamente, em providenciar outro local, em 1979 consegui
convencer o Paulo Matarazzo que deveríamos fazer um cemitério ecumênico, tipo
jardim e que viria resolver essa situação aflitiva.
Naquela
época, a tecnologia para a construção desse tipo de necrópole estava
engatinhando e, em 1980, fui à Flórida, EUA, estudar o funcionamento do
Cemitério do Dade County. No retorno,
mandei executar, em um escritório de arquitetura, os planos completos para
execução do campo-santo.
A
entrada do cemitério ficava no prolongamento da av. D. Pedro, Jardim Virginia,
em local de fácil acesso, e as campas se localizavam atrás da subestação da
Cesp, hoje uma favela ou, melhor dizendo, um loteamento clandestino. Era o
melhor lugar porque ali as dunas de areia tornavam o terreno alto e livre da
umidade. Não obstante tive o cuidado de projetar as campas em concreto armado e
não muito profundas de maneira que não ocorresse, jamais, a penetração de
umidade. Inicialmente, para garantir o rebaixamento do lençol freático no local
foi realizado um canal no prolongamento da Rua Acre em direção ao morro e
também no prolongamento da Av. Assis Chateaubriand. Alem disso estava sendo
feita a terraplenagem do local.
Concomitantemente
dei entrada ao processo nos órgãos públicos para a competente aprovação. Tendo
em vista a importância que um novo cemitério teria para a cidade, eu contava
com total apoio do poder municipal. Ledo engano. Na ocasião respondia pela
prefeitura o Sr. Jaime Daigi e a burocracia inoperante demorou em apreciar o
projeto e por fim fez uma exigência risível. Eu teria que fazer também um forno
crematório. São Paulo era a única cidade que possuía a novidade, pela qual
havia pagado alguns milhões de dólares e a municipalidade guarujaense não queria
ficar atrás. Até eu conseguir convencer que a exigência era absurda se passaram
meses, mas finalmente o plano foi aprovado, sem o crematório.
Infelizmente,
em 1982, com o passamento do loteador, a coisa toda foi à breca. Os legatários
e a usufrutuária sumiram. Tive como
única visita o filho de um deles, que hoje é político, que me disse ser
contrário a construção do cemitério e que não estava de acordo em doar as áreas
institucionais. Anotei a conversa, obtive assinaturas de testemunhas e
registrei no “Títulos e Documentos”. Naquela época eu ainda acreditava que as
leis teriam que ser cumpridas e que havia algum órgão que as fizesse cumprir.
Eu
estava redondamente enganado. O cemitério “caput”. Aos mortos de Guarujá aviso
que terão que ser enterrados na Vila Júlia ou, modernamente, no Memorial,
todavia sempre em paredes ou em muros.
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