sexta-feira, 26 de outubro de 2012

15. CIDADES (8)



(PUBLICACDO NO JORNAL CIDADE DE GUARUJÁ Nº 52)

CEMITÉRIO



Em qualquer cidade de nosso interior é sempre fácil saber onde se localiza o cemitério, é só procurar o lugar mais alto.  Ocorre que esses locais estão livres da umidade porque o lençol freático é mais profundo não impedindo a decomposição dos corpos. No Guarujá, na década de 70, tínhamos somente o cemitério da Vila Júlia junto ao morro dos macacos. Local baixo cujas ruas de acesso ficam inundadas durante chuvas mais fortes. Não é preciso dizer que se trata de local de subsolo úmido onde a putrefação dos corpos pode demorar ou jamais ocorrer. Como a municipalidade não se importou, tempestivamente, em providenciar outro local, em 1979 consegui convencer o Paulo Matarazzo que deveríamos fazer um cemitério ecumênico, tipo jardim e que viria resolver essa situação aflitiva.

Naquela época, a tecnologia para a construção desse tipo de necrópole estava engatinhando e, em 1980, fui à Flórida, EUA, estudar o funcionamento do Cemitério do Dade County.  No retorno, mandei executar, em um escritório de arquitetura, os planos completos para execução do campo-santo.

A entrada do cemitério ficava no prolongamento da av. D. Pedro, Jardim Virginia, em local de fácil acesso, e as campas se localizavam atrás da subestação da Cesp, hoje uma favela ou, melhor dizendo, um loteamento clandestino. Era o melhor lugar porque ali as dunas de areia tornavam o terreno alto e livre da umidade. Não obstante tive o cuidado de projetar as campas em concreto armado e não muito profundas de maneira que não ocorresse, jamais, a penetração de umidade. Inicialmente, para garantir o rebaixamento do lençol freático no local foi realizado um canal no prolongamento da Rua Acre em direção ao morro e também no prolongamento da Av. Assis Chateaubriand. Alem disso estava sendo feita a terraplenagem do local.

Concomitantemente dei entrada ao processo nos órgãos públicos para a competente aprovação. Tendo em vista a importância que um novo cemitério teria para a cidade, eu contava com total apoio do poder municipal. Ledo engano. Na ocasião respondia pela prefeitura o Sr. Jaime Daigi e a burocracia inoperante demorou em apreciar o projeto e por fim fez uma exigência risível. Eu teria que fazer também um forno crematório. São Paulo era a única cidade que possuía a novidade, pela qual havia pagado alguns milhões de dólares e a municipalidade guarujaense não queria ficar atrás. Até eu conseguir convencer que a exigência era absurda se passaram meses, mas finalmente o plano foi aprovado, sem o crematório.

Infelizmente, em 1982, com o passamento do loteador, a coisa toda foi à breca. Os legatários e a usufrutuária sumiram.  Tive como única visita o filho de um deles, que hoje é político, que me disse ser contrário a construção do cemitério e que não estava de acordo em doar as áreas institucionais. Anotei a conversa, obtive assinaturas de testemunhas e registrei no “Títulos e Documentos”. Naquela época eu ainda acreditava que as leis teriam que ser cumpridas e que havia algum órgão que as fizesse cumprir.
Eu estava redondamente enganado. O cemitério “caput”. Aos mortos de Guarujá aviso que terão que ser enterrados na Vila Júlia ou, modernamente, no Memorial, todavia sempre em paredes ou em muros.      

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